Solve et Coagula: Nicodemos visita Jesus... e conhece O Alquimista.

Solve et Coagula: Nicodemos Visita Jesus… e conhece O Alquimista.

Antes de começarmos, deixo uma breve contextualização: sempre tive uma grande aversão à Bíblia tradicional — para mim, era uma grandiosa história mal contada e fora de contexto em relação à realidade. Nunca tive muito interesse em me aprofundar em seus textos, dando preferência ao estudo das Cartas de Cristo e aos textos gnósticos, na minha ânsia por acessar algum tipo de verdade sobre a nossa existência.

O último lugar em que eu poderia aceitar haver escondida uma grande verdade seria ali.

Mas essa resposta, que agora trago até você, só foi possível ser acessada após eu ter “nascido de novo” — já que aquela minha versão que precisou morrer era cheia de preconceitos e arrogância, rejeitando tudo que não agradava suas teorias, fugindo apenas ao arranhar a superfície de um conteúdo que lhe desafiava, nunca chegando às profundezas de fato.

Renascimento esse que aconteceu lado a lado com o maior Alquimista que já existiu, a quem eu chamo Sananda — com todo respeito e consideração ao meu amado Trismegisto, que aliás também esteve comigo nessa jornada, e aqui terá papel importantíssimo na revelação da verdade, muito certa e verdadeira como ele mesmo diria. 🧙‍♂️

Então, imagine como não foi surpreendente quando, em uma bela manhã de domingo, eu tive uma epifania sobre a conversa de Jesus com Nicodemos, fui correndo pegar o livro religioso para ler o texto completo, e compreendi que não importa se a resposta está na Bíblia Católica, numa pedra de esmeralda ou nas páginas de um romance, “assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.”  Basta termos olhos de ver (e o desejo ardente de enxergar)...

Se você desconhece esse texto ou acredita que o conhece, te convido a mergulhar nessa nova visão que se revelou para mim.

O diálogo entre Nicodemus e Jesus — A Chave 🔑

“Havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemus, um dos principais dos judeus. Este de noite foi ter com Jesus e lhe disse: “Rabi, sabemos que és mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.” Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” Perguntou-lhe Nicodemus: “Como pode um homem nascer sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”

Esse texto é muito famoso e muito discutido, principalmente em doutrinas que consideram a reencarnação. Eu mesma, tendo estudado por anos a Doutrina Espírita Kardecista, aprendi a interpretar erroneamente o “nascer de novo” como a reencarnação física, e foi justamente essa frase que me veio à consciência naquela manhã de domingo e me fez entender o que eu mesma experienciei, e o que Ele ensinava.

Depois de muito estudo — e da prática compulsória — dos processos alquímicos, ficou claro para mim que Jesus falava sobre alquimia, que não diz respeito à morte física, mas à transmutação de estado de consciência, que pode — e por que não dizer deve — ocorrer ainda quando estamos na matéria. 

Para explicar melhor como isso é possível, vamos comparar o que diz Jesus com as lições de Trismegisto, tão enigmáticas quanto as Dele, em sua famosa Tábua de Esmeralda.

“Em Verdade, em Verdade vos digo” 📜

Nesse texto, assim como em outras passagens, Jesus sempre inicia suas respostas a Nicodemos com a frase “Em verdade, em verdade te digo”. 

Curiosamente, a Tábua de Esmeralda de Hermes Trismegisto começa com a seguinte afirmação: “É verdade, certo e muito verdadeiro”. 

Esse paralelo é fundamental: ambos os textos começam com uma invocação de verdade absoluta.

Ao conectar essas duas fontes, vemos que Jesus está funcionando como um mestre alquimista. Seria essa a maneira de validar que o que será dito a seguir é uma “Verdade Absoluta”, muito além do que é conhecido como verdadeiro pelo homem? Eu arrisco dizer que sim e que esse é um código dos Alquimistas. ✨

Água e Espírito: A Linguagem Alquímica do Renascimento 🕊️

Jesus continua sua explicação: “Quem não nascer da água e do espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do espírito é espírito. Não te admires de eu dizer: “importa-vos nascer de novo.”

Na linguagem alquímica, existe o que era chamado de “morte do Rei”. 

O Rei representa o Ego soberano, a identidade rígida, a estrutura fixa, a consciência que controla e domina. É basicamente o “eu” limitado, o orgulho, o controle, o racionalismo excessivo, a autoimagem cristalizada — ou seja, o velho estado de consciência que precisa morrer.

Ainda na alquimia, a água equivale ao processo de dissolução ou solutio, que dentro da fase da Nigredo é um dos atos alquímicos mais profundos e transformadores — talvez o mais doloroso e, ao mesmo tempo, o mais necessário para que qualquer obra espiritual verdadeira possa começar. 

A água simboliza essa dissolução emocional, a diluição do “denso” para que o renascimento comece através da purificação dos sentimentos, transmutando aqueles que são negativos e pesados, e acessando o amor e a verdadeira natureza divina.

Sem a dissolução, não há renascimento.

O espírito, por sua vez, representa o resultado da separação, na alquimia clássica corresponde ao processo chamado Sublimatio, que significa literalmente elevar, ascender, espiritualizar a matéria. A parte sutil que emerge quando a densidade é transmutada, após a segunda fase alquímica (Albedo) terminar. 

Assim, Jesus não fala de voltar ao ventre materno; fala de morrer para o velho eu e de deixar o espírito emergir, um processo que pode se repetir muitas vezes ao longo da vida.

“O vento sopra onde quer” — A Natureza do Nascido do Espírito 🌀

Jesus continua: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é todo o que é nascido do Espírito.”

Voltemos à Tábua de Esmeralda, onde é dito: “Seu Pai é o Sol, sua Mãe é a Lua, o vento a carregou em seu ventre, e a Terra é sua nutriz.” 

Também gosto da alegoria de Paulo Coelho para explicar essa parte, onde em seu famoso livro “O Alquimista”, o personagem principal no auge de sua jornada recebe o desafio de se “transformar em vento”, e temos a seguinte passagem:  “O vento chegou perto do rapaz e tocou seu rosto. Havia escutado sua conversa com o deserto, porque os ventos sempre conhecem tudo. Percorriam o mundo sem um lugar onde nascer e sem um lugar onde morrer”.

A missão do rapaz no livro, de se tornar vento, era quase um rito de passagem para poder ser oficialmente um Alquimista — mesmo que ele não tivesse consciência de que era isso que se tornava.  E, como Jesus explica, aquele que renasce do Espírito, ou seja, aquele que cumpre a sua Lenda Pessoal, na linguagem de Paulo Coelho, ou que cumpre a Grande Obra, como diria Hermes Trismegisto, é quem consegue realizar essa transformação — "seguir livre da necessidade de controle, pronto para ir para onde a sua Alma te enviar, sem preocupação alguma com o passado ou com o futuro, vivendo apenas o presente".

O Ciclo Obrigatório de Toda Evolução 🦋

“Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu.” 

Já no final de sua explicação a Nicodemos, Jesus entrega essa afirmação, que mais parece ter sido tirada na íntegra da Tábua escrita por Hermes, que ensina: “Sobe da terra ao céu e novamente desce à terra e recebe a força das coisas superiores e inferiores.”

E aqui está mais uma chave do processo de morte e renascimento que ele ensina: não existe ascensão sem descer às profundezas. 

Para atingir o “Reino dos Céus”, ou seja, o estado de espírito onde reina a harmonia absoluta, é preciso transitar pela sombra, passar pela Nigredo e experienciar a sua morte egóica, fazer toda a separação — albedo — para então integrar a força superior com o domínio do inferior.

Mas por que o “velho Rei” precisa morrer, afinal? Porque ele impede o surgimento do Eu Superior. O Rei antigo é tirano: ele governa pela repetição de padrões, pela defesa, pelo medo, pela identidade que se cristalizou. A morte do rei destrona o ego rígido, dissolve a consciência velha, abre espaço para o espírito, purifica a matéria psíquica e entrega a alma ao processo de transmutação.

É um sacrifício necessário — não físico, mas psicológico e espiritual.

Esse é um ciclo que se repetirá quantas vezes forem necessárias, sempre que for a hora de avançar de fase.

Ninguém pode ascender se não descer das alturas da arrogância, de achar que sabe tudo. Apenas teorias não geram crescimento real. Só aquele que desce do intelecto e experimenta a prática na matéria pode voltar aos “céus” e ainda subir mais alto a cada experiência.

O Acesso ao Reino dos Céus 🧘

Jesus confessa que ele mesmo passou por esse processo, completando a fala anterior: “Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem que está no céu”. 

Eu tenho aprendido com Ele próprio, em suas cartas, que: o céu metafórico, como utilizado aqui, não é um lugar geográfico, mas um estado de consciência — um habitar do "Eu Superior" presente em qualquer espaço-tempo e dimensão, que se torna acessível quando vivemos em alegria espontânea, entusiasmo e felicidade sem nenhum fator condicionado a isso. Quando é feito o processo de transmutação (morte e renascimento), é alcançado um ponto onde não mais se é suscetível às oscilações emocionais, e apenas a alegria sobre-humana, incondicional e imperturbável é experimentada em toda e qualquer situação (esse sendo o verdadeiro paraíso).

Jesus, em sua afirmação, está revelando que só lhe era possível realizar tantos feitos inexplicáveis e maravilhosos porque já havia ele mesmo renascido para a verdadeira realidade: deixado morrer o ego, dissipado as impurezas emocionais e integrado a sua consciência com a Fonte Criadora — ou seja, estava no céu o tempo inteiro, mas aqueles que interpretavam esse “céu” como um local físico não podiam compreender como isso era possível.

Jesus Entrega a Grande Obra ☀️

“E do modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado.” 

Aqui ouso dizer que a escolha da sua explicação não poderia ser mais Alquímica do que essa — sendo a serpente o mesmo símbolo que aparece no caduceu hermético, fazendo o movimento de subida,  o que também simboliza a subida da energia primal que todos nós possuímos em nossos corpos astrais, e que muitos conhecem como a subida da Kundalini

Quando essa energia se liberta e emerge ao topo dos centros vitais (chakras), por meio do ciclo de transmutação, o ser alcança o estado que Jesus chamou de “Adentrar o Reino dos Céus”.

Hermes declara quando isso acontece: “Está completa a obra do Sol.” 

A obra, em resumo, é: transmutar o denso em sutil, elevar a força vital, integrar as polaridades. 

Jesus, como todo alquimista, codifica essa mesma mensagem em seus ensinamentos.

Solve et Coagula — Desfazer e Recompor: A Dinâmica da Transformação 💎

A máxima alquímica “Solve et Coagula” resume o processo: dissolver o que é velho para coagular o novo em uma forma superior. 

Como conclusão, podemos reescrever a fala de Jesus assim:

“Quem não passar pela Solutio (morte do eu antigo) e pela Sublimatio (elevação da consciência) não pode entrar no Reino — o estado de consciência iluminado.”

Ou “Sem dissolução da velha forma e sem ascensão da alma, não há transmutação.”

Esse é o núcleo da Grande Obra.

A morte egóica rasga o antigo “eu” a ponto de nos tornar irreconhecíveis. Mas aprendi que a cada renascimento, em cada “subida e descida” desse ciclo, voltamos mais puros, com mais domínio sobre as sombras e clareza sobre a verdade — e com acesso mais longo ao “Reino dos céus”, até conquistarmos a habilidade de permanecer por lá, mesmo caminhando por aqui, como o Mestre fazia. Essa é a verdadeira “Pedra Filosofal”.

E agora, como sempre digo quando compartilho os meus estudos e experiências, essa é a minha visão. Não acredite em nada do que eu disse aqui.

Procure pensar os seus próprios pensamentos a respeito, e se possível, atravessar a sua própria transmutação interior. Só assim você conhecerá a verdade. E saberá que sabe. ✨

👽 ESCRITO POR:
Cássia Sena

🛸 LINKS AUTORA:
NAVES | UNIVERSO

     

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